António Van-Dunem, ex-secretário do Conselho de Ministros, é novamente assunto nas rodas de negócios, após ter sido demitido devido a uma teia de interesses que se entrelaçavam em torno da Sonangol. Dezoito anos após sua queda, Van-Dunem trilha um caminho discreto, mas ativo, no mundo empresarial, com especial atenção às oportunidades em Moçambique.
Em Moçambique, o antigo governante investiu na construção das barragens de Boroma (200 MW) e Lupata (600 MW), realizando projetos e estudos de impacto ambiental e viabilidade técnica avaliados em aproximadamente 20 milhões de dólares. “Envolvemos a Enangol, que suportou integralmente os custos, que em Angola seriam o dobro”, assegurou Van-Dunem, mostrando-se otimista quanto ao sucesso das suas iniciativas no mercado moçambicano.
Após um recente aumento de capital, "Toninho" Van-Dunem se tornou o maior acionista do Banco Económico, detendo 25%. A participação total de Van-Dunem na instituição, que se dá por meio da Geni — empresa que também conta com o general Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino” na estrutura acionista — permanece uma questão em aberto, pois a Geni controla atualmente 20% do banco.
A Sonangol, agora acionista majoritária com cerca de 70%, deverá reduzir a sua participação para 19%, enquanto os portugueses do Novo Banco terão menos de 3% após a reestruturação acionária, caindo de 10%.
Além de sua posição no Banco Económico, Van-Dunem possui ações em empresas como o Belas Shopping e a Geni, que detém 25% da Unitel. Este espaço no setor de telecomunicações é hoje uma das suas principais prioridades em Angola.
Em março deste ano, o Banco Nacional de Angola (BNA) forçou os dez maiores depositantes do Banco Económico a converter 35% dos seus depósitos em ações na nova estrutura acionária do banco, como parte do processo de recuperação do antigo BESA. Enquanto os depositantes não estavam satisfeitos com a obrigatoriedade, não havia alternativa, conforme indicado por fontes próximas ao processo.
Após esse processo, Van-Dunem se firmará ainda mais como figura central, detendo 25% do Económico, reforçando seu papel com a Geni e sua influência nas decisões do banco.
Conhecido nos bastidores do poder como “Toninho”, Van-Dunem foi vital para o regime atual, tendo um papel significativo na desarticulação de esquemas financeiros que envolviam generais como Kopelipa e Dino. Ele possui um histórico de coleta de informações sobre fluxos financeiros que sustentavam os interesses econômicos durante a presidência de José Eduardo dos Santos.
Antigo vizinho de João Lourenço e confidente da família presidencial, Van-Dunem opera nas sombras, atuando como emissário especial para investimentos estrangeiros, sem cargo oficial, mas detendo acesso privilegiado a dossiês sensíveis do Estado.
Apesar de sua vida discreta, Van-Dunem acumulou uma fortuna significativa durante suas décadas no aparelho estatal. Ele é apontado como beneficiário direto de empréstimos da China e possui diversas empresas em Luanda. Frequentemente, é associado à ENAGOL — Energias de Angola, uma fornecedora estratégica do setor petrolífero.
Desde sua entrada na Presidência em 1993, Toninho se transformou em um “primeiro-ministro paralelo”, controlando projetos e articulando poder econômico de forma abrangente.
Com a absolvição de Kopelipa e a condenação de Dino, surge a polêmica: por que alguém tão próximo aos mesmos contratos nunca foi investigado? No interior do sistema, a resposta revela a complexidade de sua influência: Toninho era e continua a ser o homem de confiança do Presidente.

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