MILITANTE DO MPLA ANICETO CUNHA E O SUPOSTO CHEFE DE SEGURANÇA DA SONANGOL RAPTAM E TENTAM ASSASSINAR JORNALISTA MARIANO BRÁS Á MANDO DO PCA DA SONANGOL


No passado sábado, 6 de Setembro, o jornalista Mariano Brás viveu, seguramente, um dos piores momentos da sua vida. Eram quase 17 horas quando quatro elementos, entre eles  supostos efectivos do SIC, SINSE e MPLA, altamente armados com armas de fogo do tipo Mini Uze e Star, raptaram o jornalista à porta da sua casa, levando-o para sítio incerto.


Momentos antes, por volta das 10 horas, Aniceto Cunha, um militante do MPLA, daqueles da ‘boa lábia’, com sonhos que suplantam as suas capacidades, insistia num contacto com Brás. Apresentou-se, inicialmente, como  representante do PCA da Sonangol, que tinha o objectivo de fazer chegar ao jornalista 100 mil dólares. Pedia, em troca, que o jornal dirigido por Mariano não avançasse com uma matéria sobre o PCA, cuja manchete circulava já pelas redes sociais, era o destaque da capa. Achando estranha a conversa, e por uma questão de segurança, o jornalista entendeu que seria prudente marcar o encontro para a sua área residencial, à porta de sua casa, nunca na via pública, de onde teria de transportar os valores, correndo riscos, obviamente. Aliás, a via pública até podia ter sido um pretexto para a eliminação física do jornalista, que era, na verdade, a sua intenção dos malfeitores. Segundo a nossa fonte, Aniceto surgiu na rua onde o jornalista vive, ao volante de uma viatura do tipo Toyota Lander Cruiser, cor branca,  acompanhado de um indivíduo de aproximadamente 1,85 de altura, corpulento, vulgo caenche, tatuado, voz grossa e com o rosto de ‘poucos amigos’.



Mariano Brás e um amigo, Filomeno Pedro Sebastião, foram convidados a entrar para a viatura, enquanto esperavam pela chegada de José, um elemento afecto ao corpo de segurança do PCA da Sonangol, como o mesmo se apresentava, mas, instintivamente, Filomeno pediu para descer da viatura, uma vez que teve o pressentimento de que alguma coisa não estava bem.


Já fora do carro, minutos depois, José (representante do Chefe da Segurança da Sonangol, Eduardo de Sousa dos Santos),  um indivíduo de ‘boa aparência’ apareceu ao volante de um prado, modelo idêntico aos que foram oferecidos aos campeões africanos de basquetebol. Barba branca, bastante manso e aparentemente inofensivo. São alguns dos traços identitários do homem. De inofensivo só tinha mesmo a aparência, já que a  postura intimidatória arruma a questão. Tinha a companhia de um outro caenche, igualmente alto, uma voz bastante rouca e , como tudo indicava, bem mais violento.



Desta vez, José tomou as rédeas  da conversa, convidando Mariano Brás e Filomeno Sebastião a entrar para a sua viatura e definiu o lugar onde cada um devia sentar-se. Mariano foi colocado no banco traseiro, entre os dois latagões, enquanto Filomeno ocupou o banco de frente. Foi aí que o jornalista se apercebeu que havia


uma arma do tipo Mini Uze  e, assustado, alerta aos demais ocupantes da viatura. “Aqui tem uma arma, o que se passa afinal?”, questionou Mariano Brás, que, seguidamente, ouvia a resposta de  um dos seus raptores: “sim, tem e qual é o problema? Vais ou não nos dar o que nós queremos?”, perguntou. Em resposta, o jornalista disse que nada tinha para dar, e José disse que ele daria “a bem ou a mal”.


Nesta altura Filomeno saiu do carro gritando “não façam isso, ele é chefe de família, não façam isso, vocês querem fazer isso porquê? Como gritava muito e podia chamar a atenção dos vizinhos, foi colocado numa outra viatura, em companhia de Aniceto Cunha, que também estava armado, com uma pistola do tipo Makarov.



Em seguida, José desceu da viatura para falar ao telefone, isto é, como se fosse receber orientações de alguém, quando regressou em companhia de Aniceto que, com arma em riste, disse “vamos levá-lo daqui para executar a missão, ele vai ter que falar, os kotas já orientaram”.


Conduziram as viaturas para sítio incerto, tendo José, ao longo do percurso, dito o seguinte: “Mariano, tu sabes que tens muitos inimigos, né? Olha, nesta altura tem quatro kotas que querem a tua cabeça, eu é que estou a fazer contenção, entretanto, é melhor você colaborar se não vão mesmo te comer e não sei o que fizeste também ao Aniceto, pois ele também pretende desfazer-se de ti”.


No Kassequel do Lourenço, junto ao posto de serviço do SME, pararam as viaturas e com duas armas apontadas à cabeça Mariano Brás foi obrigado a entregar o telefone, desbloquear e passar tudo o que tinha no seu interior referente ao caso Sonangol.


Um deles, indivíduo de pele clara, tem o número registado, sabe-se agora, com o nome de Rafael Domiguez.


Depois de terem  acedido ao material de que tanto procuraram, pelo qual tinham prometido pagar até 100 mil dólares, eles desceram para, mais uma vez, falar com alguém e quando regressaram à viatura disseram que sairíamos do local. A meta era um  outro sítio, para  “metê-lo a dormir”.



Desta forma, seguiram até à antiga Marginal de Luanda, nas imediações da 4º Esquadra, ao  lado das instalações da Marinha de Guerra, onde pararam o carro e ali José voltou a descer da viatura para falar ao telefone.


Posteriormente, mandou o jornalista trocar de carro e todos regressaram à zona de onde os raptados foram retirados. Mas não os deixaram sem um aviso, principalmente para Mariano: “há terrenos que não devemos pisar, esses kotas são viciados ao poder, eles estão dispostos a fazer qualquer coisa para se manterem. Olha, não escreva sobre os magistrados, dirigentes do MPLA, PCA das empresas publicas e altas patentes da polícia, pois se você voltar a escrever sobre uma dessas entidades já não te deixamos vivo, pois a vida é só uma e para ti não haverá mais uma outra chance, até porque os kotas não gostam mesmo de ti”.


Como ‘bons amigos’, acompanharam o jornalista até à sua casa e desejaram-lhe feliz noite.


Em função desta situação, o jornalista Mariano Brás participou o caso no Serviço de Investigação Criminal, departamento dos crimes organizados, e o processo decorre com o número 1012/025-DCCO, e abriu ainda  um  outro processo, na Direcção Geral de Inspensão da Polícia Nacional.



A matéria da morte primeira parte


Mariano Brás tinha um exclusivo sobre a Sonangol e o seu PCA, que almeja ser Ministro dos Petróleos, estando para o efeito, como indicam as informações disponíveis, a pagar alguns activistas e opositores do MPLA. Há também dossiês sobre as negociatas existentes naquela  empresa.


Entretanto, apesar de a matéria ter sido roubada, alguns trechos estão a vazar, havendo mesmo áudios nas redes sociais e documentos amplamente partilhados.


Um dos maiores erros do Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Pai Querido, e o do ex-Presidente do Conselho Executivo da Sonangol Distribuidora, Bernardo Vieira cometeram, foi a proposta para um novo contrato com dois administradores, ambos aposentados. Trata-se de Fernando Joaquim Roberto e Filomena Rosa, que foram empossados recentemente como administradores da empresa TOMSA, que é a Joint Venture entre a Sonangol e a empresa Total.


Outrossim, estes são detentores de parcerias em vários postos de abastecimento, constituindo uma máfia ao serviço da protecção dos seus interesses.


Por exemplo, Fernando Joaquim Roberto já foi PCE da Sonangol Distribuidora, uma empresa que, segundo as nossas fontes, não alavancou no seu consulado. Privatizou bastante em seu próprio  benefício, sendo detentor de quase 25% dos postos de abastecimentos a nível nacional.


Este administrador Fernando Joaquim Roberto esteve sempre, de forma camuflada, envolvido em tráficos Ilícitos nos negócios de retalho, lubrificantes, marinha e imobiliários, que anteriormente pertenciam à petrolífera.


Estas manobras de sabotagem do sistema SAP, visando apagar facturas e introduzir dinheiro electrónico falso nos postos de combustível, são descritas como


estratégias dos dois administradores, envolvendo os directores da SNL/D, para benefícios próprios.


“Porque no passado as suas empresas é que criaram e controlavam o sistema SAP,  conhecem todos os manuseamentos e fraudes no sistema SAP, e criaram uma rede de técnicos de informática e não só”, sustentam as fontes.


Na antiga gestão da Sonangol, na era de Filomena Rosa, e sob  olhar silencioso do administrador Fernando Joaquim Roberto, que controlava a á́rea de finanças, surgiram  enormes fraudes nas contas da Sonangol Distribuidora, no sistema SAP, bem como nos bancos comerciais.


Segundo os oficiais de inteligência basificados na Sonangol, algumas empresas estão conotadas com os mesmos administradores, impedindo a tomada de medidas naquela subsidiária, para não ferir as ligações, sempre sob olhar silencioso do PCA da Sonangol.


É uma realidade que, após a exoneração do antigo PCA da Sonangol, Carlos Saturnino, houve um grito de alegria dos gestores de diversas á́reas na Sonangol Distribuidora, uma vez que  articulou também a cabala contra o PCA cessante.


“Estava a ser feito um acompanhamento pelo mesmo Carlos Saturnino por má gestão e crime organizado e após a exoneração de Saturnino foi nomeado de imediato pelo novo PCA, Pai Querido”, contam.


Carlos Saturnino foi alertado , na primeira semana de Abril do ano passado, que a distribuidora estava a ser sabotada. Chegou a ter acesso a três relatórios confidenciais, nos quais estava  identificado o roubo generalizado a nível da Sonangol Distribuidora


Seguiu os procedimentos administrativos, despachando  de imediato os três relatórios ao Director da Direcção de Segurança e Ambiente (DSE), Eduardo João de Sousa Santos, (o principal suspeito de ser o mandante do rapto do jornalista Mariano Brás), para posteriormente o chefe da secreta tomar conhecimento das ocorrências e agir em relação  à permanência ou saída de Bernardo Vieira, que estava a interinar a Sonangol Distribuidora há cerca de um ano.


O erro grave do director de área de segurança da Sonangol, com as informações em sua posse, foi ter alertado o funcionário Bernardo Vieira, recentemente exonerado das suas funções como presidente do Conselho Executivo da Sonangol Distribuidora, de todas as irregularidades que indicavam BV nos relatórios confidenciais dirigidos ao PCA cessante Carlos Saturnino.


Tudo isto de forma a ser agraciado com valores monetários, vincaram as fontes.


Para elas, Bernardo Vieira pagou muito dinheiro ao director Eduardo  no sentido de proteger-lhe das irregularidades que Carlos Saturnino já dominava.


“Isto nunca foi procedimento de um oficial de inteligência basificado numa das maiores empresas estratégicas do País”, comenta um conhecedor do dossiê.


O mesmo é proveniente dos Serviços de Emigração e Estrangeiros, onde não teve um aproveitamento operativo excelente, a tal ponto de ter montado um escritório secreto no distrito da Maianga. Foi a via para o enriquecimento ilícito, através de vistos a favor de estrangeiros


Ilegais. Depois do fracasso no SME, contactou a antiga


Primeira-dama da República, Ana Paula dos Santos, por sinal sua prima, a pedir favores. Esta, por sua vez, contactou o General Patónio, que o “lançou” como director da DSE da Sonangol, deixando vários pendentes no SME.


Na Sonangol, tem pautado por uma conduta indecorosa, de bajulação de gestores para beneficiar de facilidades e postos de combustível, ocultando informações ao seu superior hierárquico.


Questiona-se mesmo como se vai combater a corrupção, quando o cancro é proveniente de alguns oficiais dos órgãos de segurança.

Jornal O Crime 

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