Pedro Mutindi o homem que roubou milhões no Cuando Cubango diz que crise econômica em Angola é culpa da UNITA


A crise econômica e financeira que assola Angola há anos foi novamente alvo de declarações controversas por parte de Pedro Mutindi, ex-governador do Kuando-Kubango e embaixador angolano na Namíbia. Mutindi atribuiu os problemas económicos do país à destruição causada pela guerra civil, liderada pela UNITA, enquanto minimizava o impacto da má governação e da corrupção no seio do MPLA, partido governante.


Mutindi argumentou que a crise atual tem suas raízes na guerra civil, afirmando que os recursos públicos foram canalizados para reconstruir infraestruturas destruídas durante o conflito, como estradas, hospitais e barragens. Segundo ele, se esses fundos não tivessem sido destinados à reconstrução, poderiam ter sido usados para melhorar as condições de vida dos angolanos.


Embora essa narrativa seja amplamente utilizada por membros do MPLA para justificar os desafios financeiros do país, especialistas e críticos apontam que a corrupção endêmica, o desvio de recursos públicos e a má gestão são fatores mais significativos no agravamento da crise econômica. 


Pedro Mutindi, que ocupou cargos de destaque no MPLA, foi demitido pelo presidente João Lourenço, mais depois eleito embaixador na Namíbia. Mesmo após uma série de denúncias envolvendo esquemas de corrupção liderados por ele e sua família. Investigações revelaram que empresas ligadas à sua filha, Odalya Mukwatchala Oliveira Mutindi, participaram de desfalques milionários no governo provincial do Kuando-Kubango.


Uma das empresas, a Oyoveo Investimentos, recebeu mais de 600 milhões de kwanzas do Ministério das Finanças para a reabilitação de um hospital no município de Cuchi. No entanto, a administração local desconhecia detalhes do projeto, deixando claro que o contrato era gerido exclusivamente pelo governo provincial. Além disso, a Oyoveo, fundada meses antes de receber os primeiros pagamentos, é acusada de operar como uma empresa-fantasma, desviando recursos para fins pessoais.


Outra empresa, a Dabenda, também de Odalya, recebeu mais de 140 milhões de kwanzas em contratos públicos. Grande parte dos fundos foi usada para despesas pessoais, incluindo compras em lojas de luxo e estadias em hotéis caros. O padrão de enriquecimento ilícito demonstra como famílias ligadas ao MPLA capturaram o Estado angolano, desviando recursos destinados ao bem público.

Desde que assumiu a presidência em 2017, João Lourenço tem adotado um discurso firme contra a corrupção, prometendo acabar com o "festim de pilhagem" que caracteriza o MPLA. No entanto, o presidente enfrenta resistência dentro do partido e do governo, onde muitos dirigentes continuam a desafiar suas iniciativas de reforma.


O caso de Pedro Mutindi é emblemático dos desafios de Lourenço: enquanto alguns aliados como Mutindi são expostos e afastados, outros permanecem em seus cargos, enfraquecendo o discurso anticorrupção e perpetuando a impunidade. Além disso, a pressão para proteger figuras influentes do partido complica ainda mais os esforços de limpeza institucional.

Apesar das denúncias e provas contundentes contra Odalya Mutindi, ela permanece em liberdade, diferentemente de outros envolvidos em esquemas semelhantes, como Jossi Hermenegildo Pedro, ex-diretor adjunto do gabinete de Mutindi, que está preso por desvios de mais de 200 milhões de kwanzas.


A disparidade no tratamento judicial reforça a percepção de que a justiça em Angola ainda é seletiva, protegendo os interesses de famílias poderosas ligadas ao MPLA. Essa realidade mina a confiança pública nas instituições e dificulta a reconstrução do país.


Enquanto dirigentes e suas famílias acumulam fortunas, a maior parte da população angolana enfrenta pobreza extrema, desemprego e falta de acesso a serviços básicos. Infraestruturas essenciais, como escolas e hospitais, permanecem em condições precárias, enquanto os recursos públicos são desviados para contas privadas.


A promessa de João Lourenço de combater a corrupção "doa a quem doer" ainda está longe de ser plenamente cumprida. Para muitos angolanos, a esperança de uma nação livre da pilhagem sistêmica parece cada vez mais distante.


A crise econômica de Angola não pode ser atribuída apenas à guerra civil ou à destruição causada pela UNITA. A má governação, a corrupção e o desvio de recursos públicos são os principais responsáveis pela situação atual. A captura do Estado por elites corruptas exige um debate nacional profundo e ações concretas para devolver o poder ao povo angolano, conforme estabelece a Constituição.


O caso de Pedro Mutindi e sua família é apenas um exemplo de como a corrupção afeta diretamente o desenvolvimento do país. Para resgatar Angola e garantir um futuro melhor para seus cidadãos, é essencial fortalecer as instituições, garantir a independência do sistema judicial e responsabilizar todos os envolvidos em esquemas de corrupção, independentemente de sua posição ou influência.

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