Em um movimento que gerou controvérsia nos bastidores do MPLA, o ex-ministro do Trabalho, António Pitra Neto, declarou seu apoio ao general Higino Carneiro na corrida pela liderança do partido. A aliança entre os dois políticos, conhecidos por seus históricos de controvérsias e suspeitas de corrupção, levanta questões sobre os rumos do partido governista angolano e a promessa de moralização da política sob a liderança de João Lourenço.
António Pitra Neto, que ocupou o cargo de ministro do Trabalho durante anos, é amplamente conhecido por sua ligação a supostos esquemas de corrupção e má gestão, especialmente relacionados ao Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Durante sua permanência no governo, surgiram várias suspeitas de desvio de fundos públicos, com destaque para o "saque" no Fundo da Segurança Social, que teria gerado um vasto património imobiliário em Portugal, incluindo imóveis de luxo na zona costeira do Estoril.
De acordo com investigações do *Africa Monitor*, os desvios envolveram outros dirigentes do MPLA, incluindo a atual ministra da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), Teresa Rodrigues Dias. A ministra, que anteriormente atuou na ENDIAMA e na Direção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), foi nomeada ao cargo com a missão de organizar os ativos do INSS e combater fraudes históricas. Contudo, até o momento, o inventário dos ativos do INSS, ordenado por despacho presidencial em 2020, permanece sem resultados claros, alimentando dúvidas sobre a transparência do processo.
O apoio de Pitra Neto a Higino Carneiro não é apenas uma aliança política, mas também uma união de figuras cuja trajetória levanta questionamentos. O general Higino Carneiro, que já ocupou cargos de destaque como ministro, governador provincial e deputado, também enfrenta acusações de má gestão e enriquecimento ilícito. Sua candidatura à liderança do MPLA representa um desafio direto à agenda anticorrupção de João Lourenço, que tem como objetivo principal afastar do partido as figuras associadas à velha guarda e aos esquemas de pilhagem do Estado.
O MPLA, que governa Angola desde a independência, enfrenta uma batalha interna pela sua liderança e pelo futuro do país. Desde que assumiu a presidência, João Lourenço prometeu combater a corrupção "doa a quem doer" e restaurar a credibilidade do partido junto à população. No entanto, a aliança entre Pitra Neto e Higino Carneiro reflete as resistências internas e o esforço de parte da elite governante para manter o status quo.
A candidatura de Higino Carneiro, apoiada por figuras como Pitra Neto, representa um retrocesso para muitos observadores, que veem nesse movimento uma tentativa de enfraquecer os esforços de moralização do partido e de retorno à política de captura do Estado por interesses privados.
O caso do INSS é emblemático da corrupção que permeia as estruturas do MPLA. Sob a liderança de Pitra Neto, o instituto teria sido usado como ferramenta para desvio de fundos públicos, beneficiando dirigentes e seus aliados. Apesar das tentativas da atual ministra, Teresa Rodrigues Dias, de organizar os ativos do INSS, não há transparência sobre os resultados, alimentando suspeitas de que as práticas ilícitas continuam a ocorrer.
Além disso, o vasto património imobiliário de Pitra Neto em Portugal levanta questões sobre a origem dos fundos utilizados para essas aquisições. Imóveis de luxo no Estoril e em outros países são frequentemente apontados como fruto do desvio de recursos públicos, mas, até o momento, não houve investigações conclusivas ou responsabilização.
A aliança entre Pitra Neto e Higino Carneiro ilustra a dificuldade de João Lourenço em implementar uma verdadeira reforma dentro do MPLA. A resistência de figuras históricas e a perpetuação de práticas corruptas colocam em xeque a credibilidade do partido e alimentam o descontentamento popular em um momento de crise econômica e social profunda.
Para muitos angolanos, a política continua sendo dominada por uma elite que utiliza o poder para enriquecer às custas do povo. A falta de transparência nas investigações, a impunidade de figuras poderosas e a resistência às mudanças são obstáculos significativos para o progresso do país.
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