Corrupto José Martins: Governo provincial do Kuando-Kubango gastou em 2024 mais de mil milhões de kwanzas em consumíveis de escritório



No ano passado, só a sede do governo provincial do Kuando-Kubango gastou mais de 508 milhões de kwanzas (o equivalente a 551 mil dólares) na aquisição de materiais de consumo corrente de escritório, particularmente toners e tinteiros para impressoras. Seguem-se as resmas de papel, algumas pastas de arquivo, envelopes e esferográficas – tudo isto para uma estrutura com cerca de 180 funcionários e 30 impressoras, várias das quais inventariadas como obsoletas.

 

Em 2023, as despesas com os mesmos consumíveis atingiram os 750 milhões de kwanzas (o equivalente a mais de um milhão de dólares na altura) para a sede do governo provincial. Em dois anos, somam-se mais de 1,3 mil milhões de kwanzas.

 

De fora ficam os gastos em consumíveis de escritório feitos pelas administrações municipais da província, que também primam pelo absurdo, e algumas das quais nem sequer têm electricidade, como Nancova, Mavinga e Rivungo. A título de exemplo, a empresa Honesty recebeu 17,5 milhões de kwanzas em consumíveis de escritório, que forneceu aos municípios de Mavinga, Menongue e Nancova. Trata-se de tinteiros, resmas de papel, esferográficas, entre outros. Só no âmbito da “operacionalização do Programa de Combate contra a Pobreza”, a Honesty cobrou dois milhões de kwanzas pelo fornecimento de esferográficas, tinteiros e resmas de papel. É como se a pobreza tivesse as suas próprias impressoras.

 

Veja-se o caso de Nancova, com pouco mais de três mil habitantes. A empresa Honesty cobrou um milhão em alimentos para os pobres e 2,5 milhões em tinteiros e papel para a administração local que regista a pobreza e não tem electricidade.

 

Desde Janeiro de 2025, o Kuando-Kubango deixou de existir enquanto segunda maior província de Angola, dando lugar a duas províncias independentes: o Kuando e o Kubango. José Martins, o então governador, permanece no palácio de Menongue, agora como governador do Kubango. Já o Kuando está sob governo do general Lúcio do Amaral, com a capital em Mavinga.

 

Para efeitos da presente investigação, fazemos referência a uma só província, do Kuando-Kubango, uma vez que os factos reportam a 2023 e 2024, período em que vigorava uma entidade única. Os valores apresentados não são absolutos, porque resultam apenas dos documentos consultados pelo Maka Angola.

 

O Kuando-Kubango (KK), com pouco mais de 600 mil habitantes, apresenta um dos índices mais elevados de pobreza extrema do país.

 

O volume das despesas do governo provincial é equiparável ao da autarquia da segunda casa da maioria dos dirigentes e da elite angolana: Lisboa. Nesta cidade, os gastos totais em consumíveis de escritório não ultrapassam os 500 mil euros anuais. Estamos a falar de uma cidade europeia com extensos serviços públicos que compreendem mais de 17 mil funcionários.

 

No Kuando-Kubango, os gastos com a aquisição de papel indiciam que este é, de toda a África, o lugar onde se produzem mais documentos administrativos locais – um recorde que deve deixar o governo do general João Lourenço muito orgulhoso. Trata-se do maior fingimento de que há registo num país africano que apregoa a luta contra a corrupção.

Maka Angola 

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